sábado, 22 de novembro de 2008



E os céus mostravam as balas lançadas nos dias de guerra. Sangrenta e dolorosa, que foi sendo curada pelas dores do passar do tempo. E a ferida ia consequentemente diminuindo até parecer devassa aos pensamentos, mas estava viva e quente, ardia quando lembrava das velhas fotos e notícias que antes trazidas por quem amava. E iniciava uma guerra dentro de mim, uma batalha insana de medo e insegurança em várias partes. Ia atacando e sufocando conforme se alastrava pela laringe e chegando no início da boca. Lembro-me de não conseguir respirar mais, porém o intuito da luta era atingir os neuros? E chorava ao relembrar da falta de dedos e tatos. E eu precisava de uma luz, de algo que pudesse dar um caminho, mostrar uma solução, de uma idéia para acabar com a primeira guerra dentro de mim. A batalha de estar viva ainda, e lutar por algo a mais. E de amor o homem vive, ele tenta sobreviver, mas mata-se se não consegue, enlouquece a alma e desnorteia para qualquer lado e ambiente. Gostava do tempo em que não sabia ao certo o que sentia. Assim sinto mais aflição dentro de mim, e quando descobri o que realmente batia e machucava, foi um impacto que ninguém crê dar certo. E oceanos escorriam pelas maçãs do rosto. Ah! Se a coragem fosse minha amiga, não teria problemas com as ações. E assim foi-se indo, passageiro como as formas da lua, cada momento um modo. Nessas idas e vindas minha vida desandou, caiu a obscuridão. E ainda chorava pensando se poderia, um dia, ela virar a cara para mim. Olhava o jeito da moça que um dia acendeu minha vista. Amável como as flores do campo e os cremes com morangos. Então, em um dia de total eloqüência, resolvi parafrasear o já escrito nos lábios e mentes de todo e qualquer apaixonado. Sai em busca de palavras, mas dentro de mim elas se escondiam e nada surgia. Em momento algum as encontrei, e corria contra o tempo e espaço na busca constante e cansativa das palavras certas, aflição cada vez maior, poderia não ser compreendido. E se não entendesse a minha falta de palavra? Dormi por dois dias e duas noites, e fui acordado. Arregalei os pretos olhos que me pertenciam. Bati minha íris nos perdidos e pequenos olhos dela. Para que mais eu gostaria de algo? Talvez minha falta de palavras tenha influenciado algo dentro da moça. E do silêncio descobri uma boa maneira de amar. Uma sintonia recíproca entre ambos os sobreviventes. Coração que antes brigava e virou guerrilheiro dentro de mim. E sobrevivi aos raios do amor.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Flower Child


E das correntes mais negras, degrado-me como se fosse meus últimos suspiros depois de uma guerra insana. Onde fui tomada por toda a loucura humana de tentar destruir algo que não havia final. E entre o coração que diz para ir mais fundo, a razão cochicha em meu ouvido que devo parar, pois poderei machucar-me. E nesse paradoxo que me encontro todo o dia quando acordo. O que farei agora? E me indigno quando penso em desistir. Fraqueza que grita e explode dentro de mim.


Não há o que esperar, não há o que fazer, apenas deixar. Não de lado, mas passar, deixar tudo se acalmar no meu peito. Porque amor não se conjuga, nem se pluraliza, deve ser por isso que somente eu, e absolutamente eu sei o que se passa dentro de mim. Se não se conjuga, é porque apenas eu estou a amar até o exato momento. Queria apenas sorrir por um milésimo de segundo sem dor de pensar que estas longe, assim como a minha mente flutua pelas ruelas sem saídas. Penso que verdadeiramente descobri o que me afetava durantes tempos em que não conseguia pensar em muitas coisas, o meu único problema seria tentar tirar você das minhas linhas errôneas.


E quanto mais tento tirar-te de meus fios pensantes lembra-me que cada vez enfio você cabeça a dentro. E lembro-me dos dias em que estávamos conversando sobre morangos e diversão. E nem pensava que poderia crescer ao som de algo tão estranho para os ouvidos. E eles pedem paz. E minha cabeça pede o esquecimento. Mas meu coração grita por amor. Amo demais penso demais, e ajo conforme penso. Mas não ajo muito como seria o necessário. Poderia viajar até o seu estado sólido. Oh lua que contemplava antigamente com olhares infantis. Continuo a mesma criança com coração grande.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Love is all you need


Nem eu mesmo sei o que se passa pela insana cabeça de alguém que é torta para algumas coisas, e nessa relação de coisas, inclui-se perigosamente o iludo amor. Sempre na mesma incerteza de estar plena, apta, destinada, pronta, qualquer palavra que consiga descrever isso, para o amor. Doentio, meigo, amargo, receoso. Do mesmo modo em que a pessoa quer se atirar de corpo e alma, cai uma certa realidade de medo de estar errada, tentando fazer um surreal viver. Um irreal pensar de que estaria errada se tivesse feito tudo ao contrario, mas por milagre, ela foi e ficou, dura e permanente, mesmo receando estar lá, receando até o toque alheio ser muito mais fundo do que o mero sentir medo do outro lado. Enrijeceu o esqueleto ao imaginar que aquilo poderia, por alguma hipótese não ter acontecido, e uma alegria espontânea mostrou-se. Não era mais o medo que a controlava, mas com certeza ele voltaria.


Amor estranho. Amor de bom agrado, amor simples, amor de palavras. Porque amor amor mesmo, ainda não vi. Gostava do jeito em que ele falava com ela. Suspirava pelo modo em que ele a tratava com afável superioridade de meros amigos. E naturalmente ele fazia bem para a moça. Faz.


Mas mesmo assim ela continua receosa, continua na mesma ladainha de estar torta para o amor. Insanidade de pessoa insegura mesmo, de pessoa medrosa com atitude maior, porque já tomou na cabeça uma vez, e não quer apanhar de novo. Chega de matar o já ferido. E sem paredes para se segurar, sem ajuda. Porém a certeza dentro dela, é saber que ainda tem vivo alguma coisa que a deixe de olhos abertos e pronta para receber qualquer coisa que provenha dele. E exclusivamente nesse instante ele faz muito bem para ela.

Não sei ao certo que eu quis dizer nem pensar. Não sei se penso ainda, ou apenas me movo porque não tenho outra saída, mas é muito bom saber que alguém nesse mundo existe. Isso anima.


Seja sempre sincero com aquilo que sente, eu ainda te espero... Bem aqui.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

To: Family


Talvez seja uma lei da natureza, talvez seja a força do habito. Mas quando a sensação de distância realmente acontece, ai sim, vê que o mais difícil é recordar daquele tempo em que à brincadeira de ‘lojinha’ era apenas uma forma a mais de estar perto. Talvez uma distancia nem muito grande, mas sabemos que se for duzentos quilômetros, no outro dia ela estará aqui. Oportunidade vem com o tempo, e da mesma maneira que vem, levam aqueles que um dia pensamos que nunca iriam junto. Posso não ter aproveitado como deveria, posso não ter prestado atenção nos horários. Mas agora, as lembranças de que tudo o que foi feito era para ser guardado na memória, faz seu real sentido em minha cabeça.
Eu posso transparecer completamente sozinha, forte e que não precisa de mais alguém para dividir problemas, mas quando a falta entra em um sistema congelado, em que não há tempo para a normal temperatura, a tristeza vem à tona, a cabeça começa a pesar e as lágrimas caem como se fosse a últimas palavras. E as lágrimas que trancam em meu olhar morto descem como se fosse o ultimo tango de Paris, as cores estão deformando a total forma. Existência da distante magia colorida das crianças.
Posso estar errada, de sempre pensar que a hora certa viria mais tarde. Entre as varias contradições da velha Ana, das fases mais inóspitas já vistas. Sempre há uma pétala para cair. A rosa broxou quando o caule foi embora, e da mais vermelhidão, a inocência de ter que andar sozinha foi criando a barreira. Todos os sonhos de correr pelos campos mais verde e florido, rolar, e rir das piadas mais sem graça. Navegar nos sonhos de uma fantástica ilha paradisíaca. Ouvir as musicas e saber dividir a mão com quem mais repudiou durante anos.
Lembro-me daqueles olhos claros que expeliam as gotículas mais meigas, do abraço que tremeu as pálpebras. Uma saudade extrema, e talvez pela primeira vez, neste exato momento eu conseguiria falar um ‘eu te amo, e sinto a tua falta’ com a mais sincera e esperançosa afirmação. Dizem que depois que ficamos mais velhos e vemos a vida passar mais depressa, é que começamos a ver o que perdemos. E estou começando a concordar com essa afirmação. Eu não perdi muita coisa, eu nem vivi ainda. Dezessete anos não é quase nada, não é quase nada quando não se convive com dois irmãos fora de si, um pai que canta, ou tenta cantar, e uma mãe que contabiliza as reformas da casa.
Viagens mais alucinantes impossíveis de existir, aqueles passeios em que contaremos em uma roda no domingo na casa dos pais, e os filhos ouviram as velhas historias da família Treichel Vianna, família que não será somente de Viannas e Treichels, com certeza... Alguém falou em filhos? Só se for os dos meus irmãos, porque filhos eu não terei. Mas hei de cuidar dos meus sobrinhos do mesmo jeito que cuidei de meu irmão mais novo, na base das vassouras e circuitos em volta da mesa. Hei de conversar com as minhas sobrinhas quando elas entrarem na sétima serie e começarem a estudar de manha. Lembro-me daquela velha noite.
Conversas foram pouca, risos, incontáveis, numero de saídas, falta calculadora e dígitos. Nunca esquecerei, nem nas minhas viagens mais longas, nos meus sonhos mais loucos, nos meus retornos, aqueles que um dia tiveram o prazer de estar me sufocando com palavras, que só agora elas começam a fazer total sentido. Palavras tenebrosas, que pensei jamais serem usadas. E muito pelo contrario, experiências usáveis e diluídas em gotas de suor. Trabalhos constantes, gritos de ‘você estará melhor se fizer isso’, talvez às vezes nem que fosse por esse motivo, era para destruir a vida do outro mesmo. Mas duvido que um dia alguém vá destruir correntes fortes e bem constituídas.
Espero que todos nós tenhamos caminhos feitos água, para deslizar e encharcar a pele, que tudo ocorra de forma agradável, batalhando, sangrando, mas agradável. E mesmo passando-se vinte anos, a família vai estar junta, na mesma posição de acolher os velhos braços frios e brancos. E nos invernos tomaremos chocolate quente na cama da mãe na velha Cachoeira do Sul, a cidade que mesmo pequena, nos deixa caminhar pelas ruelas e voltar para casa depois de um dia cheio de nada para fazer. Que sejam felizes aqueles que do mesmo sangue sabem o real sabor da distância.