terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Selvagem Coração


Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:



Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.
Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.
Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável.Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.
Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.
Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.
Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.
Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se pos. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.
Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.
Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.
Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.
Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.
Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.
Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.
Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.
Meu coração é uma planta carnívora morta de fome. Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!
Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também.Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.



Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração é teu.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Mulher, Sempre Mulher


Eu não entendo nada sobre mulheres. Nunca satisfeitas com si próprias, sempre tem algo fora do padrão, sempre tem algo que não combina com nada, sempre ou mais gorda ou magra demais, e que o padrão diz para a mulher estar perfeita. Agora cá entre nós, que padrão é esse que não as fazem sossegarem o corpo? Parece uma porta escura para elas, uma espécie de deusa, uma superioridade que as fazem crer. Não entendo nada de mulheres, muito menos se estão ‘no ponto’ ou não. Mas mulher pra mim, na sinceridade, é aquela que tem gordurinhas do lado, jamais na frente, mas do lado. Tem pernas de mulheres, cabelos de mulher e braços de mulher, e não aquele tipo Barbie, onde tudo é perfeito, aquele loiro perfeito, as pernas torneadas perfeitamente e um rosto impecável, que chega a parecer plástica facial.
As mulheres de hoje em dia, se preocupam com a magreza, e muitas delas estão morrendo por bulimia, anorexia e muitas outras doenças de dedos ou falta de comida, enquanto poderiam estar se controlando por ai. Muitas mulheres estão se preocupando com a maquiagem do outro dia, ao invés de nem colocarem maquiagem, porque as rugas são graciosas, e maquiagem pra que? Podem ficar bravas com isso, mas maquiar-se de noite, para um encontro, sabendo que cinco minutos depois estarão nuas numa cama, com alguém que nem vai saber se esta maquiada ou não, perda de tempo. Sim mulheres, nós gostamos de suas faces sem aquele concreto e tinta e não sei mais o que, que fica duro como pedra, e às vezes chega a ser ridículo. E ainda por cima, os comentários entre elas são que, mulheres interessantes são as altas. Mentira! Falácia! Falcatrua! Tudo mentira da oposição, mulher interessante é aquela que consegue ser o mais afável possível, que consegue ser ela mesma independente de ser alta ou não. E que, nos finais de semana deixam seus maridos olharem futebol. Essas sim são mulheres interessantes.
Mulheres são mulheres em qualquer lugar do mundo, nunca entenderão o porquê da rodada de cerveja ser somente entre homens [e algumas mulheres desconhecidas no meio], do porque do futebol ser sempre no horário em que elas querem algo, de que mesmo estando horríveis, deploráveis, para nós elas sempre estarão lindas [mesmo, forçadamente, concordarmos com isso], porque sempre vamos mentira, e elas acreditarem sobre seu peso, altura, frente e trás. Que homens nunca serão perfeitos, que existem homens homossexuais.
Mas elas são únicas, até mesmo tendo coisas únicas. Que serão sempre prioridade na vida masculina, e até na feminina, porque, o que seriam das mulheres sem as próprias mulheres, do que falariam? O que viriam para competir, brigar e ter ciúme? E mais, do que seriam os homens sem as mulheres, sem sua fragilidade no meio de tanta coisa robusta, sem a calmaria que elas passam até quando estão agitadas, sem suas mãos doces esfregando pelo nosso rosto. Sem seus gritos e quebradeiras, sem suas brigas sem importância, sem seus momentos de drama desnecessários, sem o período de tensões e problemas hormonais. Mulher que é mulher nunca vai compreender a si e aos outros, mesmo que tente mudar o mundo e a tudo, sabem que não terão sucesso completo. Porque mulher que é mulher esta aqui para ser feliz, encontrar felicidade na comida, na gordura e em qualquer coisa que saibamos que somos felizes com elas e não estão nem ai para o padrão, que ainda não sabemos qual é. Pronto, me odeiem mulheres!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Caminito




Ah! Sempre é bom rever Buenos Aires, aquela coisa bucólica, que dá uma vontade de não parar de ouvir mais tango quando se volta. E as ruas, as casas, tudo lá revive e sobrevive. Entre meios de protestos, panelaços e qualquer outro quebra-pau que lá aconteça, Buenos Aires continua linda por igual. E entre os bares e as praças, um copo e outro, ainda me vejo admirando cada vez mais a terra da rivalidade brasileira. Eu ainda não entendo essa constante briga entre Brasil e Argentina, que na realidade, é mais Brasileira do que Argentina. Mas enfim, continua a mesma coisa.


Pois bem, na bem da verdade, não era bem sobre Buenos Aires que gostaria de falar, mas sim sobre a quanta nostalgia ela me passa. Nunca vi uma cidade que me passasse tantas coisas velhas ao mesmo tempo, e recordações tão grandiosas, algumas coisas já esquecidas na mente, que, quando coloco o pé lá, me vem tudo de volta. Não sei se choro, se fico rindo, se apenas fico parada, e momentaneamente sem reação, mas em algum estado tenho plena certeza que fico. E tudo fica, e vai e volta em pouco tempo. Gosto desses instantes de nostalgia intensa, essas reviravoltas na mente. É bom poder e ter a chance de relembrar algumas coisas, boas ou ruins, porque nem tudo são mares de rosas na vida de algum humano, sempre há algo errado, que incomode.
Lembro-me de tantas coisas, e me recordo o momento exato da primeira vez que fui a Buenos Aires, foi algo muito surreal, e sem qualquer tipo de palavras, até porque o espanhol não é algo que eu goste de incorporar, não disse nada, não hesitei, não movi nem locomovi. A segunda vez foi como primeira vez melhorada, não descartando a possibilidade de a primeira ser maravilhosa, mas havia algo muito melhor nessa segunda vez. Algo mais do que inteiriço e significativo (que algum tempo depois, especificamente dois anos, se transformou em bagunça mental generalizada), algo que encheu. E a terceira, bem a terceira foi para esquecer, mas como a volta foi só para relembrar o que de ruim aconteceu e de chorar as magoas por tudo que, de não concreto deu errado, foi só pra viajar mesmo. Ou ver a diva pop, ou qualquer outra resposta sem ser de lovers nightmare! E literalmente falando sobre pesadelos amorosos, melhor nem entrar no mérito de amores, nunca dados certo mesmo, melhor deixar no fundo do poço. Mas que uma paixão latina transborda sobre Buenos Aires, ah sem dúvida isso acontece e surge de repente, entre um show de tango em plena Avenida de Mayo, ou um palanque em frente à casa rosada.
E infinitamente, nunca me canso daquele lugar, daqueles argentinos, daquela falta de educação total que somente lá existe, e o transito caótico, e qualquer outro tipo de coisa que lá existe, mas isso tudo não consegue apagar todo o brilho daquela cidade, que não é de luz, não é cinzenta, mas é das casas velhas, das reconstruções, dos amantes latinos, das paradas obrigatórias.

‘Por una cabeza, todas las locuras. Su boca que besa, borra la tristeza, calma la amargura. Por una cabeza, si ella me olvida qué importa perderme mil veces la vida, para qué vivir.’

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Mi querida Buenos Aires


Viajando e pra bem longe... Nem vem, Buenos Aires somente!


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Another Time, Another Place


Estou cansada de ser enganada, e mais uma vez isso me acontece, e parece que nunca aprendo. É complicado quando se deixa cair novamente. E mais uma vez me afundo nisso, e me perco nessa ladainha. Eu sempre morro na praia e não entendo. Depois, fico pensando e morrendo devagarzinho, sofrendo com cada pensamento novo, e vem vindo o passado, e dilacerando o já recuperado, ou então, quase recuperado furo que aqui, nesse peito vazio e duro como casco de tartaruga ainda perdura, e insiste em viver. Ele não adoece, ele fortalece com mais um suspiro de dor, de tristeza notícia e qualquer outra coisa que venha e pense ser desse lado. Tristeza não me deixa enterrar totalmente, mas não me deixa pensar, e nessa eloqüência de nenhum nem outro, paro, fico e não faço mais nada. Morro de medo de perder o que ainda sobrevive em mim, ou penso que tenho algo para sobreviver. Nem eu sei mais o que tenho aqui. Eu tenho um certo ódio mortal e um rancor que mata qualquer indivíduo quando algo me acontece e nele esta entrelaçado alguém. Não tenho medo de desejar o mal alheio, muito menos das minhas pragas rogadas. Não deveria desejar, mas um bom vingador de bom coração também existe e resiste em muitos pontos, mas não sobre os seus calos.
Eu lembro da última vez de enganação total do corpo meu, foi uma dor no peito, uma pressão entre o músculo e o que há depois do músculo. Parecia insuportável, mas eu ressurgi, e não sei como eu ainda vivo, e me engano e me enganam. Eu pensei nunca, sob hipótese alguma isso acontecer novamente, e mais uma vez aqui encontro-me. Tenho pena de mim mesma, um dó de não entender o porque de fazer e refazer e não compreender o porque de estar errado. Para mim sempre esta certo, e deve ser isso que nubla meus olhos. Aquela dor insuportável voltando, e vem acariciando como quem não quer nada, e vai entrando corpo adentro, falando coisas boas e quando menos se espera, morre! Eu sinto falta de quando eu tinha um pouco mais de realidade dentro de mim, deve ser isso que falta. A realidade dói muito para ser vista a olho nu e não ter um pano que esconda algumas partes. E é assim que eu me sinto, assustada. Não com a realidade, pode até ser um ponto fiel, mas há algo que me assusta, algo que nem eu consigo ver, talvez seja tão mais complicado do que querer entender a todo custo o alheio.
É uma angústia, um sentimento irreparável, algo que não para de andar por dentro de mim, que vai se espalhando pelo corpo, e nesse final de ano, tudo esta se juntando, todas as coisas ruins vem vindo. E algumas novas entram, as velhas vão renascendo, e vai criando-se a bola de neve, que nem fogo consegue apagar. Perdida como criança que chega nova no mundo. Não entendo o que se passa, e necessito a todo o santo custo entender. É inadiável querer descobrir, e parece que com cada novo minuto, uma nova dor. Sem ressentimento de vir dos outros, mas não era necessário, ou então muito necessário para tomar na carne, no osso, mas não aprender? Julgo-me inadimplente para muitas coisas, e com um erro novo, uma perda de chance, ou mais uma vida morta.
Ah! Essa vida em prestação, que a cada mês ao invés de pagar e ganhar um bônus para o mês que vem, eu ganho um tiro a mais e continuamos aqui, contando história. Eu paro e reparo, será que existe sentimento dentro de algo vazio? Ainda, e não me canso de ficar perguntando-me sobre essa coisa nula, esse espaço que não é preenchido, e cada vez mais aumenta. É um espaço sem preenchimento, e me apavoro pensando se jamais vai preencher. Seria uma lástima se nada ocupar isso. Seria um morto, um peso morto, algo que nunca sairá, acabará ou qualquer outra coisa. Extremamente com gosto ruim, vai descendo na boca um gosto ruim, e cria um aroma de tragédia. Triste. Dolorido seria melhor, porque as conseqüências são muito maiores e longas. Eu não quero mais chorar, não quero mais me desidratar por algo que nunca vai, ou me deixou bem. Eu quero esquecer, e nunca mais lembrar, um estilo amnésia, sem reparar em outro foco. Fuja da minha mente, me deixe em paz e não volte. Eu quero solidão!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Essa vida bandida


Minh’alma ainda dói, ainda sinto aquele peso dentro de mim, e aquele trauma corroendo as pernas, mexendo com a eloqüência. Eu queria um pouco mais de sensatez, um pouco mais de harmonia entre o corpo e a razão, que nem sempre parece estar viva, e se esta, há algum empecilho para que ainda sim, não haja harmonia. E a falta dela me mata, lentamente vai perfurando o tórax, chegando devagar, dolorido, quente no músculo, e atinge o coração, sem dó, sem qualquer tipo de amor. Eu ainda sinto, ou ao menos tento sentir, esquecer aquilo que me matou e mata. Tento esquecer o que perdi, perdeu, e não conseguiremos mais. Eu sempre tento, deveria de passar desse estagio, mas é aquele medo, aquela angústia, aquela desgraça alheia, que a empatia trás para você, e unicamente você, carregar pelo outro. E no final, quando tudo esta bem, sempre há algo perdido, algo que não cola. E nada cola um coração moído, quebrado, despedaçado. Nada vai juntar as peças novamente, e acabamos dessa toada, essa tortura de amar errado e nem pra isso servir.


Soneto da Tristeza

"Por favor tristeza dá um tempo
para que eu possa me restabelecer
sentir o que vai dentro da minh`alma
o que se passa no interno do meu ser
Não me deixes pelos descaminhos da vida
sem um farol que ilumine minha ação
sem um estímulo que me dê guarida
sem a mão que estende e afaga o coração
Ainda que eu ande sem rumo,
talvez à procura de algum elo perdido
ainda assim me conservarei no prumo.
Ainda que o medo me entorpeça
e que eu fique completamente amargurado
acenda-se a chama do amor, antes que eu feneça."
Guida Linhares

sábado, 22 de novembro de 2008



E os céus mostravam as balas lançadas nos dias de guerra. Sangrenta e dolorosa, que foi sendo curada pelas dores do passar do tempo. E a ferida ia consequentemente diminuindo até parecer devassa aos pensamentos, mas estava viva e quente, ardia quando lembrava das velhas fotos e notícias que antes trazidas por quem amava. E iniciava uma guerra dentro de mim, uma batalha insana de medo e insegurança em várias partes. Ia atacando e sufocando conforme se alastrava pela laringe e chegando no início da boca. Lembro-me de não conseguir respirar mais, porém o intuito da luta era atingir os neuros? E chorava ao relembrar da falta de dedos e tatos. E eu precisava de uma luz, de algo que pudesse dar um caminho, mostrar uma solução, de uma idéia para acabar com a primeira guerra dentro de mim. A batalha de estar viva ainda, e lutar por algo a mais. E de amor o homem vive, ele tenta sobreviver, mas mata-se se não consegue, enlouquece a alma e desnorteia para qualquer lado e ambiente. Gostava do tempo em que não sabia ao certo o que sentia. Assim sinto mais aflição dentro de mim, e quando descobri o que realmente batia e machucava, foi um impacto que ninguém crê dar certo. E oceanos escorriam pelas maçãs do rosto. Ah! Se a coragem fosse minha amiga, não teria problemas com as ações. E assim foi-se indo, passageiro como as formas da lua, cada momento um modo. Nessas idas e vindas minha vida desandou, caiu a obscuridão. E ainda chorava pensando se poderia, um dia, ela virar a cara para mim. Olhava o jeito da moça que um dia acendeu minha vista. Amável como as flores do campo e os cremes com morangos. Então, em um dia de total eloqüência, resolvi parafrasear o já escrito nos lábios e mentes de todo e qualquer apaixonado. Sai em busca de palavras, mas dentro de mim elas se escondiam e nada surgia. Em momento algum as encontrei, e corria contra o tempo e espaço na busca constante e cansativa das palavras certas, aflição cada vez maior, poderia não ser compreendido. E se não entendesse a minha falta de palavra? Dormi por dois dias e duas noites, e fui acordado. Arregalei os pretos olhos que me pertenciam. Bati minha íris nos perdidos e pequenos olhos dela. Para que mais eu gostaria de algo? Talvez minha falta de palavras tenha influenciado algo dentro da moça. E do silêncio descobri uma boa maneira de amar. Uma sintonia recíproca entre ambos os sobreviventes. Coração que antes brigava e virou guerrilheiro dentro de mim. E sobrevivi aos raios do amor.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Flower Child


E das correntes mais negras, degrado-me como se fosse meus últimos suspiros depois de uma guerra insana. Onde fui tomada por toda a loucura humana de tentar destruir algo que não havia final. E entre o coração que diz para ir mais fundo, a razão cochicha em meu ouvido que devo parar, pois poderei machucar-me. E nesse paradoxo que me encontro todo o dia quando acordo. O que farei agora? E me indigno quando penso em desistir. Fraqueza que grita e explode dentro de mim.


Não há o que esperar, não há o que fazer, apenas deixar. Não de lado, mas passar, deixar tudo se acalmar no meu peito. Porque amor não se conjuga, nem se pluraliza, deve ser por isso que somente eu, e absolutamente eu sei o que se passa dentro de mim. Se não se conjuga, é porque apenas eu estou a amar até o exato momento. Queria apenas sorrir por um milésimo de segundo sem dor de pensar que estas longe, assim como a minha mente flutua pelas ruelas sem saídas. Penso que verdadeiramente descobri o que me afetava durantes tempos em que não conseguia pensar em muitas coisas, o meu único problema seria tentar tirar você das minhas linhas errôneas.


E quanto mais tento tirar-te de meus fios pensantes lembra-me que cada vez enfio você cabeça a dentro. E lembro-me dos dias em que estávamos conversando sobre morangos e diversão. E nem pensava que poderia crescer ao som de algo tão estranho para os ouvidos. E eles pedem paz. E minha cabeça pede o esquecimento. Mas meu coração grita por amor. Amo demais penso demais, e ajo conforme penso. Mas não ajo muito como seria o necessário. Poderia viajar até o seu estado sólido. Oh lua que contemplava antigamente com olhares infantis. Continuo a mesma criança com coração grande.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Love is all you need


Nem eu mesmo sei o que se passa pela insana cabeça de alguém que é torta para algumas coisas, e nessa relação de coisas, inclui-se perigosamente o iludo amor. Sempre na mesma incerteza de estar plena, apta, destinada, pronta, qualquer palavra que consiga descrever isso, para o amor. Doentio, meigo, amargo, receoso. Do mesmo modo em que a pessoa quer se atirar de corpo e alma, cai uma certa realidade de medo de estar errada, tentando fazer um surreal viver. Um irreal pensar de que estaria errada se tivesse feito tudo ao contrario, mas por milagre, ela foi e ficou, dura e permanente, mesmo receando estar lá, receando até o toque alheio ser muito mais fundo do que o mero sentir medo do outro lado. Enrijeceu o esqueleto ao imaginar que aquilo poderia, por alguma hipótese não ter acontecido, e uma alegria espontânea mostrou-se. Não era mais o medo que a controlava, mas com certeza ele voltaria.


Amor estranho. Amor de bom agrado, amor simples, amor de palavras. Porque amor amor mesmo, ainda não vi. Gostava do jeito em que ele falava com ela. Suspirava pelo modo em que ele a tratava com afável superioridade de meros amigos. E naturalmente ele fazia bem para a moça. Faz.


Mas mesmo assim ela continua receosa, continua na mesma ladainha de estar torta para o amor. Insanidade de pessoa insegura mesmo, de pessoa medrosa com atitude maior, porque já tomou na cabeça uma vez, e não quer apanhar de novo. Chega de matar o já ferido. E sem paredes para se segurar, sem ajuda. Porém a certeza dentro dela, é saber que ainda tem vivo alguma coisa que a deixe de olhos abertos e pronta para receber qualquer coisa que provenha dele. E exclusivamente nesse instante ele faz muito bem para ela.

Não sei ao certo que eu quis dizer nem pensar. Não sei se penso ainda, ou apenas me movo porque não tenho outra saída, mas é muito bom saber que alguém nesse mundo existe. Isso anima.


Seja sempre sincero com aquilo que sente, eu ainda te espero... Bem aqui.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

To: Family


Talvez seja uma lei da natureza, talvez seja a força do habito. Mas quando a sensação de distância realmente acontece, ai sim, vê que o mais difícil é recordar daquele tempo em que à brincadeira de ‘lojinha’ era apenas uma forma a mais de estar perto. Talvez uma distancia nem muito grande, mas sabemos que se for duzentos quilômetros, no outro dia ela estará aqui. Oportunidade vem com o tempo, e da mesma maneira que vem, levam aqueles que um dia pensamos que nunca iriam junto. Posso não ter aproveitado como deveria, posso não ter prestado atenção nos horários. Mas agora, as lembranças de que tudo o que foi feito era para ser guardado na memória, faz seu real sentido em minha cabeça.
Eu posso transparecer completamente sozinha, forte e que não precisa de mais alguém para dividir problemas, mas quando a falta entra em um sistema congelado, em que não há tempo para a normal temperatura, a tristeza vem à tona, a cabeça começa a pesar e as lágrimas caem como se fosse a últimas palavras. E as lágrimas que trancam em meu olhar morto descem como se fosse o ultimo tango de Paris, as cores estão deformando a total forma. Existência da distante magia colorida das crianças.
Posso estar errada, de sempre pensar que a hora certa viria mais tarde. Entre as varias contradições da velha Ana, das fases mais inóspitas já vistas. Sempre há uma pétala para cair. A rosa broxou quando o caule foi embora, e da mais vermelhidão, a inocência de ter que andar sozinha foi criando a barreira. Todos os sonhos de correr pelos campos mais verde e florido, rolar, e rir das piadas mais sem graça. Navegar nos sonhos de uma fantástica ilha paradisíaca. Ouvir as musicas e saber dividir a mão com quem mais repudiou durante anos.
Lembro-me daqueles olhos claros que expeliam as gotículas mais meigas, do abraço que tremeu as pálpebras. Uma saudade extrema, e talvez pela primeira vez, neste exato momento eu conseguiria falar um ‘eu te amo, e sinto a tua falta’ com a mais sincera e esperançosa afirmação. Dizem que depois que ficamos mais velhos e vemos a vida passar mais depressa, é que começamos a ver o que perdemos. E estou começando a concordar com essa afirmação. Eu não perdi muita coisa, eu nem vivi ainda. Dezessete anos não é quase nada, não é quase nada quando não se convive com dois irmãos fora de si, um pai que canta, ou tenta cantar, e uma mãe que contabiliza as reformas da casa.
Viagens mais alucinantes impossíveis de existir, aqueles passeios em que contaremos em uma roda no domingo na casa dos pais, e os filhos ouviram as velhas historias da família Treichel Vianna, família que não será somente de Viannas e Treichels, com certeza... Alguém falou em filhos? Só se for os dos meus irmãos, porque filhos eu não terei. Mas hei de cuidar dos meus sobrinhos do mesmo jeito que cuidei de meu irmão mais novo, na base das vassouras e circuitos em volta da mesa. Hei de conversar com as minhas sobrinhas quando elas entrarem na sétima serie e começarem a estudar de manha. Lembro-me daquela velha noite.
Conversas foram pouca, risos, incontáveis, numero de saídas, falta calculadora e dígitos. Nunca esquecerei, nem nas minhas viagens mais longas, nos meus sonhos mais loucos, nos meus retornos, aqueles que um dia tiveram o prazer de estar me sufocando com palavras, que só agora elas começam a fazer total sentido. Palavras tenebrosas, que pensei jamais serem usadas. E muito pelo contrario, experiências usáveis e diluídas em gotas de suor. Trabalhos constantes, gritos de ‘você estará melhor se fizer isso’, talvez às vezes nem que fosse por esse motivo, era para destruir a vida do outro mesmo. Mas duvido que um dia alguém vá destruir correntes fortes e bem constituídas.
Espero que todos nós tenhamos caminhos feitos água, para deslizar e encharcar a pele, que tudo ocorra de forma agradável, batalhando, sangrando, mas agradável. E mesmo passando-se vinte anos, a família vai estar junta, na mesma posição de acolher os velhos braços frios e brancos. E nos invernos tomaremos chocolate quente na cama da mãe na velha Cachoeira do Sul, a cidade que mesmo pequena, nos deixa caminhar pelas ruelas e voltar para casa depois de um dia cheio de nada para fazer. Que sejam felizes aqueles que do mesmo sangue sabem o real sabor da distância.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008


Essa busca sem fim e futuro, matando, socando, tirando meu estômago, coração e qualquer outra parte do corpo. Judiando da carne, e deixando o ar de solidão e medo. Uma quebradeira de instintos já não mais identificados humanamente atingindo todos os lados. E eu não sei que caminho escolher, que passo dar, que mais eu posso fazer. Eu apenas queria sair dessa monotonia de não saber mais o querer da vida. Um ódio de estar viva, mas não querendo estar morta. Um dia após o outro sem sentido, sem nada a perder, muito menos a ganhar. Sabe, bem da verdade, queria estar ai, longe de toda essa coisa urbana, to um tanto quanto cansada disso, mas ao mesmo tempo eu poderia ficar aqui o tempo necessário, apenas esperando você chegar e não iria me preocupar com mais nada. Não sei, deve ser a sua falta, a minha constante presença, essa periódica distância. Intermináveis. Destrutíveis. Inconvenientes! Ah se eu pudesse me atrever a fugir, soltar as tranças e escapar para o lado que eu quisesse, apenas com você, e nada mais do que isso.


Girl, put your records on, tell me your favorite songYou go ahead, let your hair downSapphire and faded jeans, I hope you get your dreams,Just go ahead, let your hair down. You're gonna find yourself somewhere, somehow.


Recomponha-se garota o mundo ainda não acabou! Fuja!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008



You don’t do anything. You just wait for something. You don’t know what to do. You just think a lot. And you wait again. Nothing to do. Nothing to say. You forget you past. You don’t wanna to know about your future. You just want to sleep for a long days. You continuous. You walk by. You don’t want something, ‘coz you desist about all the things. You don’t see light, bright, end, trees, lovers, friendship. You don’t heard. You don’t know how to open your eyes. You don’t speak. But smile, you’re alive.




Os Livros na estante já não tem mais tanta importância. Do muito que li, do pouco que eu sei, nada me resta. A não ser, a vontade de te encontrar. O motivo eu já nem sei, nem que seja só para estar, ao seu lado. Só pra ler, no seu rosto. Uma mensagem de Amor.

domingo, 19 de outubro de 2008

Espero que o fim da tarde venha com você


Agradável como o vento que batia lentamente no rosto e dava um favorecimento para e felicidade. E sorria para o nada. Sol levemente nos olhos, mas isso não incomodava nada, talvez fosse melhor ter uma luz entrando na mulher. E a brancura mostrava a ingenuidade feminina que ainda existia nela. Lembrava do mórbido passado, que foi enterrando e nunca mais visto. Esqueceu p que havia vivido, seu coração nunca acendeu como antes, e respirava aliviada, sem tanto peso como antes o ar entrava em seu corpo. Nem sei quanto tempo demorou para cessar aquela dor que sentia dentro do coração, mas ela era obsoleta agora, nua e crua, onde não havia mais problemas. Estava livre, e o penhasco fornecia a liberdade necessária. Sentiu um vento correr nas suas costas e abriu os olhos. Virou-se e sua íris desenhou aquele a qual pensou um dia pertencer. Baixou a cabeça e voltou a olhar o vale. Transpassou os braços até fechar a silhueta dela, encostou a cabeça no ombro da mulher. Eterna dor que voltava agora e parecia não sair, por aquele momento sabia que seria impossível curar o furo que novamente se abria. E o perfume espalhava pelas narinas dela, o cheiro que não havia fugido do senso olfativo feminino. Descobriu que ainda o amava, mas até ontem pensava que havia esquecido. Porque isso tudo mais uma vez? Machucar-se-iam novamente? Torceu a cabeça para o lado oposto da cabeça do homem. Girou e saiu dos braços dele. Ficou esperando alguma outra reação dela, porém nada saiu na expressão. Caminhou para o longe e o deixou sozinho. E nenhum outro pôr-do-sol foi tão mortífero quanto um adeus de olhos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Utopia e Reticências


E se o amor não fosse suficiente para a minha vida? Onde estariam os amantes latinos de quem tanto sabemos que existem? Talvez eu tenha me perdido em um grande lago azul, olhos azuis, pretos, verdes, tanto faz se são claros ou escuros. Apaixonei-me por eles, cai em tentação e naveguei ate os grandes mares para conquistá-los. Mãos perdidas, em um horizonte sem fim, em uma imensidão sem luz e o milagre desaparece diante dos olhos desesperados. Olhos famintos de paixão, fervor. Tempo que nos carrega para longe, muito mais distante que uma pobre cabeça pode pensar em querer estar.


Amores dissolvidos em água, uns cortados em pequenos pedaços por não darem certo no momento errado. Outros que não se encontram e vão embora, nunca mais se vêem, esquecem que existem. Amores interplanetários, amores sexuais, amores carnais. Apenas todos são amores, que vivem, relutam por algo a mais. Por um espaço inconseqüente, algo onipotente, estão livres para voar, com medo de caírem em mãos alheias, mas estão andando. Mesmo perdendo esperanças, chorando rios de sangue, andando por caminhos obcuros, transcendental, imaginário e desejável.


Fugiram nos enganos da vida, nos problemas de um fim sem sentido, de um dia chuvoso. Não estão navegando no mesmo barco, andando por entre as arvores verdes. Pessoas intervieram nesse meio, como a escravidão antepassada, como os imigrantes que deixaram suas terras. Invasores de corações alheios, destruidores de substancias, não acreditava em seu próprio caminho, intervieram nas casas dos outros.


Espero que o meu coração esteja cheio, esperando por algo, ou alguém o que o faça sentir-se explodindo, de uma fragrância desconhecida, um gosto diferente, um sabor relativamente de rosas. Quero morrer ao seu lado, gastar meu tempo colhendo flores nos gigantes campos verdes, correr para perder o fôlego, e recuperar ele em suas palavras. Quero um romance de cinema, um filme totalmente preto e branco, onde somente as cores nós podemos enxergar. I wish you were here!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008


E o que faz você viver por anos?

Ter uma felicidade eterna?

E viver para que? Se não há para com quem dividir, rir, conversar, gritar, discutir. Porque não é somente de coisas esplêndidas que o homem vive. É disso que o ser precisa, de alguém que lhe compreenda, ou tente pelo menos em alguns instantes compreender. Que esteja ali, presente em alma, não necessariamente em corpo, mas que seja a parede estrategicamente montada, e que nesse ‘plano’, seja mais inesperado do que aquele que segue completamente as regras. Amor de pai, mãe, irmãos, família, amigos. Não são esses amores que conseguem fazer o homem viver, é preciso de algo a mais do que o amor fraternal e familiar. Aquele carnal, passional, fugaz, ardente, silencioso e mortífero. Esse amor que corroe a alma em épocas de chuvas longas, ou de calor de deserto. Quando distante, cria raízes de saudade, quando perto cria descaso de muito tempo junto. Mas sempre é o mesmo ato. Que vai se enraizando, criando força depois de algum tempo, e quando chega ao seu ápice, arma-se uma nuvem dourada, aquela paz transcendental, um calor fervoroso, uma sensação de vida mais viva, de cores mais intensas, de música estourando dentro de si e um arrepio com cada coisa que aconteça. O toque, o cheiro, os olhos. E tudo isso criado por somente e exclusivamente uma única coisa. Que mexe com todos, que cria expectativa, que faz as pernas balançarem, que anima e clareia o dia.


São braços, pernas, cabelos, tudo que, em conjunto mexe, e nem se quer faz parte se é interessante ou não. Gostoso quando dá certo. Porém até os não-correspondidos são adoráveis. Eles abalam como qualquer outro. Mesmo sendo de apenas um, dá o seu ar da graça e cria outra atmosfera. Os platônicos, os sensuais, os momentâneos, os que nem sabe se é amor ou não, mas estão vivos de alguma maneira. Amor expresso por palavras, por timidez exagerada ou até por silêncio.


Nem Whitney Huston, nem Toni Braxton, muito menos Jazz, Blues, La Vie En Rose, consegue descrever o indefinível amor. A extraordinária certeza é que concordo com Beatles, é que você precisa de amor. E cada amor que nasce, mais gracioso fica. Pode durar anos a fio, pode ser por um dia, alguns minutos de olhar apaixonado por alguém que tenha certeza que nunca mais verá, mas foi amor. Amor desesperado, aqueles que duram somente em festa, outros que levam nada mais do que quinze minutos ou que perduram somente uma noite e nada mais.

Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer; É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor; Nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Coração Deserto





E meu coração palpita cada vez que ouço aquela velha música, onde ninguém sabia o que dizer quando era tocada. Talvez o que realmente aconteça em mim seja a falta das tuas palavras e o calor dos verões passados. Descoberto nas cinzas das tristezas passadas, mas recoberto por novas ondas. Queria poder estar junto aos teus braços, e esquecer que a distância é algo que faz nossa cabeça. Pensamentos parecidos, dores semelhantes, mas uma enorme concentração de materiais diferentes. Opostos caminhos levados. Desejos diferentes, e isso podem ser o que me afeta, o que nos afeta. Ou então, o que verdadeiramente bate contra nós seja somente distância. Afáveis caminhos que antes eram perto de mim. Conhecimento que não demos conta enquanto estava juntos.

E eu que pensava que nada poderia dar certo em um tempo concreto. Mas os traços feitos são diferentes do que imaginamos, ou tentando inventar. Criamos barreiras para a desilusão não bater de frente, mas as ilusões são piores quando não há sabor de morangos na boca. E o que mais dói, é saber que não me olhas com olhos de amor. E a reação alheia sobre tudo o que passa em minha mente, é o constrangimento de estar ainda nessa mesma parte de um coração despedaçado. Despedaçado, não pela falta de amor, mas por amar em excesso, e isso mata, como qualquer força que não vá para o seu bem.

E se não houvesse barreiras nesse meio tempo? Se não houvesse distância que fosse maior do que tudo? Seríamos tímidos como as plantas são com as pessoas que as querem bem. E a cada pensar que crio, é uma parte indo-se para o léu, é uma vontade de não estar sentindo isso que passa dentro de mim. É a ambição de sufocar o que me mata, e fortalecer o que revigora depois de algum tempo. E as correntes que eram para ser amigas, viram e torcem os pés, e estão presos as coisas que não queríamos. Ou queríamos e não assumimos os desejos. Ansiaria por comandar em meu coração por algumas horas. E aspiraria não obedecer meu cérebro por um uns instantes, para conseguir não pensar, e tirar você de dentro de mim. Seria um alívio para meus olhos, não precisar mais enxergar o que me quebra e vira-me por lados em que é preferível não estar só.

E de solidão, somente meu coração sabe lutar contra, mas a vitória de não conseguir segurar-se mais é inevitável enquanto me vejo em frente a um paradigma de amar-te, ou apenas tentar esquecer o que realmente fez algumas tardes aquecerem-me durante rigorosos invernos que passei, e as dores nunca serão as mesmas depois de recobrir o furo que criaste em torno de uma fiel amadora de seus sentimentos e ilusões. Não é preciso viver para saber o quanto é doce estar ao seu lado e sentir o quanto é bom crescer em uma espinha ferida depois de uma guerra fria. E ainda lembro-me do nosso último abraço em meio a um turbilhão de medos e angústias misturadas.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Devil In Her Heart

Pensei que fosse algum tipo de raiva ou ódio mortal por ainda estar sentindo a mesma coisa e insistindo na mesma pedra para acertar sem razão. Talvez fosse um medo eloqüente, uma insanidade batendo sem trégua, uma vontade louca de gritar, um agito no peito. Mas era um vazio que invadia meus poros e me deixava com essa cara de quem não sabe o que sentir nem realizar o que sente. Uma solidão de andar em passos leves sem nada, com mãos presas na mesma calça e uma face caída pela dor de estar ali, sem reação para nada. E eu apenas queria saber se havia algo que eu pudesse sentir dentro de mim, algo que fizesse sentir-se viva. Porém não entendo o sentir, muito menos se algo, quando verdadeiro, ou com alguma tentativa de ser verdadeiro, invade o nosso ser. Nem eu sei ao menos o que quero que aconteça comigo, se nem na primavera consigo agora sentir o perfume floral na rua, nem o sol mais sabe brilhar a meu ver como antes. E esse vadio vazio me desumaniza. E é tristeza, misturada com medo com anseio com trauma com escuridão, nem surge mais luz dentro do peito. Ele não fornece nada, ele não tem nada para dar. Ele não recebe nada. Você tem a vontade de chorar, de lagrimejar até secar, de gritar, mas nada sai de dentro do seu corpo, e esse inútil vazio permanece ali, encostado na parede do coração, secando o resto de sangue e sugando os sentimentos que ainda restavam. Não resta nada dentro de mim, além de carne e osso. Eu queria tirar esse enorme rombo de dentro de mim, e cobri-lo para nunca mais aparecer, mas não há nada mais forte do que essa sensação de vazio.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Dois ou três almoços, uns silêncios.


Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos. Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas. Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece. De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia. Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria. Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Elas lutavam por ideais, por direitos a mais, por maior justiça, por democracia em seu mais bem feito estado de receber por tudo o que tinham em mente, e assim funcionava. Sua persistência era muito maior do que a própria força que seu nome diz. Mulher, que antes era tão bem ornamentada e descrita. Mas o tempo transformou as cabeças femininas, que não estão mais brigando e pedindo por seus direitos, elas não sentem mais a vontade de querer algo a mais. Elas apenas fazem o que mandam. Sim, os tempos mudaram, assim como a garra feminina não é mais a mesma que se encontrava na batalha pelo dia internacional da mulher e outros trancos e barrancos que elas enfrentaram, para nos fornecer maior participação na sociedade. Antes donas-de-casa, que guerrilhavam para a paz familiar e um bom trato no marido, diga-se de passagem, esse escravismo da antiga mulher, pode existir, mas não tão significativo como antes. Ainda bem que algumas tiveram a honra e coragem de querer mudar o antigo regime, quase militarista sobre tais. Com todas as diversificações de pensamentos e novas mulheres, ainda existem alguns exemplos de Ana Terra (símbolo da mulher rio - grandense), Joana D’arc, ou qualquer uma dessas que fizeram seus nomes história. E são dessas mulheres que esperamos uma nova volta, uma maior concentração de ida para frente. As palavras são fáceis e aceitáveis, mas as ações demoram a se concretizar e ocupam maior espaço para seguir em frente. Esperamos e somente isso que fazemos sempre, não tem voz muito menos o respeito, e devemos brigar por essa entrada na vida, ou então acabar sempre na mesmice dessa vida monótona e incapaz de satisfazer os desejos.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O bom brasileiro

E o homem não vive como vivia nas velhas muretas de Roma, lá era muito mais tranqüilo do que um bom desenvolvimento aqui. Os homens cortejavam as mulheres, que na sua vez eram muito mais interessantes das que hoje brigam pela sua existência. Tinham uma verdadeira democracia, e não uma disputa por tudo o que fazem hoje. As praças e templos eram lugares de bom convívio, a música era de suma qualidade, os poetas e músicos não tinham problemas com o que fazer nem se o seu salário era de acordo ou não e muito menos taxados de loucos desvairados, e a dança era em uma simetria condizente a estrutura corpórea do sexo. E hoje? O que vemos hoje? Total desfiguração de uma sociedade que prima pela vida corrida, onde a música não lhe faz muito sentindo, e nos que fazem, nem serve para muito. Onde a política continua sempre a mesma chantagem e compra cada vez maior. A sem-vergonhice vista nos rostos de cada um que colocamos no poder, é concluída no estrago e roubo maior, nunca visto por olhos dos trabalhadores. Sem a justiça pela qual fazem jus. E a depravação não acaba somente nas linhas da política e bela sociedade existente no Brasil, o que dizer sobre a atual cultura, onde o bom cidadão brasileiro adota a cada passar de tempo? A cultura é o depravar de uma sociedade, e nem mesmo o Brasil tem um certo nome, onde cultiva suas raízes como sempre disse o presidente. Não há musica onde a mulher não seja uma cachorra ou uma vadia, e todo o bom homem quer dizer-se macho, até que provem o contrário. E nota-se essa disseminação nas crianças, que dançam sem qualquer tipo de problema o ‘Créu’. E não há mais infância sem baixaria, não há mais a inocência nos olhos carentes de tempos de vento fraco e admirável. Há a falta de esperança e o caos que aumenta com o novo carro na rua, mais uma bala sem rumo e mais um olhar perdido para a destruição em massa. E pelo que você luta? A vida estressante do brasileiro que nunca desiste, que esta sempre esperando por algo a mais na sua vida? O brasileiro que tanto reclama de tudo, não faz nada para a modificação, nem se quer ajuda a escolher pessoas que realmente façam a diferença. E é nesse grande estilo de vida que o Brasil cai nas trevas e se afunda na fossa cada vez maior e suja. Gostamos de apanhar e sempre acabar no juízo final. E é assim que vivemos, nesse conflito raivoso entre não saber o que fazer e o agir incorretamente. E ainda temos o gosto e a petulância de dizer ‘Sou brasileiro e nunca desisto’.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Time goes by

Ficar o dia toda deitada sobre a grama, vendo as nuvens no céu, passarem devagar, e a arvore que me da sombra, deixa o ventinho passar e arrepiar a espinha. Não pensar em nada, e lembrar de tudo, esperar por mais algumas horas, levantar, olhar ao meu redor, esperar a noite chegar a um lugar incomum, e que me fez crescer. A noite chega, você da adeus as pessoas mais importantes, choramos, e pensamos “eu voltarei, quem sabe eu voltarei...”. Chegamos à outra cidade, você vira para trás, vê aquelas pessoas que estiveram presentes desde o teu primeiro suspiro, da um sorrisinho, baixa a cabeça e segue... Eles sabem que você voltara, e você tem que voltar, é o teu dever voltar, para ver que você ainda esta aqui. O tempo passa, o ano passa você fica com a cabeça mais madura, ou tenta faze-la amadurecer, volta (pois você sabe o que deve fazer), e para no mesmo lugar que você estava antes de partir, você olha para as mesmas pessoas que você viu antes de sair, umas envelheceram, outras mudaram completamente, mas todas olham para você como se tu ainda tivesses os mesmos sete anos. Tu largas as malas que tem em teus braços, e com uma respiração de alivio corre e se envolve nos braços de quem sempre esteve contigo. As coisas não mudaram desde a tua partida, você por dentro, continua a mesma criança de sempre, com o coração de sempre, apenas mais velha do que o seu natural estado físico e emocional... E no próximo ano, tudo ira acontecer novamente, você fará tudo de novo, mas para sempre, não haverá voltas, escolhas são feitas assim, eu sei que dará certo, mas o inicio será complicado. Você fez a escolha certa, você escolheu conhecer o mundo todo, agora continue nessa viagem, nela você ainda terá a companhia dos bons e velhos amigos. Tenha certeza, eles estarão lá de novo.

sexta-feira, 25 de julho de 2008


"Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva."


Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Morangos Mofados

Let me take you down
‘cause I’m going to strawberry fields
nothíng is real, and nothing to get hung about
strawberry fields forever
Lennon & McCartney: “Strawberry fields forever

Adagio sostenuto
Quando acordou, o sol já não batia no terraço, o que trocado em miúdos significava algo assim como mais-de-duas-da-tarde. Tinha tomado três comprimidos, um pela manhã, outro pelo almoço, outro antes de dormir, só que juntos - e o gosto persistia na boca. Strawberry, pensou, e quis então como antigamente ouvir outra vez os Beatles, mas ainda na cama teve preguiça de dar dois passos até o toca-discos, e onde andariam agora, perdidos entre tantas simones e donnas summers, tanto mas tanto tempo, nem gostava mais de maconha. Acariciou o pau murcho, com vontade longe, querendo mandar parar aquele silêncio horrível de apartamento de homem solteiro, a empregada não viria, ele não tinha colocado gasolina no carro, nem descontado cheque, nem batalhado uma trepadinha de fim de semana, nem tomado nenhuma dessas pré-lúdicas providências-de-sexta-feira-após-o-almoço, e precisava. Precisava inventar um dia inteiro ou dois, porque amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o quê.
Acendeu um cigarro, assim em jejum lembrando úlceras, enfisemas, cirroses, camadas fibrosas recobrindo o fígado, mas o fígado continuaria existindo sob as tais fibras ou seria substituído por? Ninguém saberia explicar, cuecas sintéticas dessas que dão pruridos & impotência jogadas sobre o tapete, uma grana, imitação perfeita de persa. O telefone então tocou, como costuma às vezes tocar nessas horas, salvando a página em branco após a vírgula, ele estendeu a mão, tinha dedos até bonitos ele, juntas nodosas revelando angústia & sensibilidade, como diria Alice, mas Alice foi embora faz tempo, a cadela que eu até comia direitinho, estimulando o clitóris comme ilfaut, não é assim que se diz que se faz que se. O telefone tocou uma vez mais, e como se diz nesses casos, mais uma e mais outra e outra mais, enquanto com uma das mãos ele ligava o rádio libertando uma onda desgrenhada de violinos, Wagner, supôs, que tinha sua cultura, sua leitura, valquírias, nazismos, dachaus, judeus, e com a outra acariciava o pau começando a vibrar estimulado talvez pelos violinos, judeus, davis.
O telefone parou, o telefone não fazia nenhum som especial ao parar, mas deveria arfar, gemer quando entrasse fundo, duro e quente, judeuzinho de merda, deve estar metido naquele kibutz no meio da areia plantando trigo, não, trigo acho que não, é muito seco, azeitonas quem sabe, milho talvez, a cabeça quente do pau vibrava na palma da mão, foi no que deu ficar trocando livrinho de Camus por Anna Seghers, pervitin por pambenil, tesão se resolve é na cama, não emprestando livro nem apresentando droga, anote, aprenda, mas agora é troppo tarde, tudo já passou e minha vida não passa de um ontem não resolvido, bom isso. E idiota. E inútil.
Levantou de repente. Foi então que veio a náusea, só o tempo de caminhar até o banheiro e vomitar aos roncos e arquejos, onde estão todos vocês, caralho, onde as comunidades rurais, os nirvanas sem pedágio, o ácido em todas as caixas-d’água de todas as cidades, o azul dos azulejos começando a brilhar, maya, samsara, que às vezes voltava. De súbito lisérgico no meio de uma frase tonta, de um gesto pouco, de um ato porco como esse de vomitar agora as quinze miligramas leves leves. Alice abria as coxas onde a penugem se adensava em pêlos ruivos, depois gemia gostoso, calor molhado lá dentro. Neurônios arrebentados, tem um certo número sobrando, depois vão morrendo, não se recompõem nunca mais, quantos me restarão, meu deus e a mão de pêlos escuros de Davi acariciando as minhas veias até incharem, quase obscenas, latejando azul-claro sob a pele. Sabe, cara, quando te aplico assim com a agulha lá no fundo, às vezes chego a pensar que. Noites sem dormir e a luz do dia esverdeando as caras pálidas e as peles secas desidratadas e as vozes roucas de tanto falar e fumar e falar e fumar. Vomitou mais. Nojo, saudade. Sou um publicitário bem-sucedido, macio, rodando nas nuvens, o Carvalho me disse que rodando-nas-nuvens é do caralho, que achado, cara, você é um poeta, enquanto olho pra ele e não digo nada como eu mesmo já rodei nas nuvens um dia, agora tou aqui, atolado nesta bosta colorida, fodida & bem paga. Strawberryfields: no meio do vômito podia distinguir aqui e ali alguns pedaços de morangos boiando, esverdeados pelo mofo.

Caio Fernando Abreu