terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Um texto é para isso




Eu tenho sorte.


Simples assim. Eu sou sim uma pessoa de sorte. Sorte por ter tido a capacidade de lembrar que ainda há vida pós guerra, pós dia frio, pós amores perdidos. Sorte de ter levantado a cabeça sem tentar esconder os furos que me deixaram na dor. Eu tenho tanta sorte, pelo simples fato de ainda amar quem machucou, sem ter o medo de ser ferida de novo.

Quantas vezes a gente cai, tenta não sofrer tanto como normalmente se desmorona, e quando pensamos que esta tudo perdido e a solução se esvaiu de vez, parece que a luz ressurge no fundo de um minúsculo ponto de vida. Ficamos dias, meses ou até anos procurando por salvação, procurando por algo que faça jus a nossa estadia aqui, e nada encontramos. Até o mero dia em que desistimos de procurar, e algo vem de graça, na ponta dos dedos e faz uma mudança plena na vida. Uns vivem algum tempo, indeterminado, pensando agindo somente para si mesmo em busca de algo que se diz “conhecimento, autoconhecimento”, e fica no seu próprio mundo vendo o que lhe atrai mais, o que desgosta, o que faz sentido, o que mudaria e o que deixaria ali, intacto. Uma leva de dias somente para ver o que dentro de si habita, e o que faz alguma coisa mover tudo isso.

Quando essa sua estrada longínqua e teimosa acaba, sinceramente não há mais barreiras entre você e o que você era. Existem apenas novas fórmulas, sensos, discrições, pensamentos e uma tranqüilidade gritante. Que se torna irresistível aos olhares famintos de inveja dos outros, porque ninguém tem a coragem e a audácia de retirar um tempo pra si, parar de fazer o que gosta e o que o corpo material necessita, para unicamente viver o seu próprio sonho, mundo ou qualquer coisa que o seu espírito: infantil ou não, tranqüilo ou não, deseja vivenciar. Quero dizer que, é bom parar de fazer o que sempre se faz para ver que aquilo pode ser algo que não o faz bem, mas que você só faz isso por ser corriqueiro. Em determinada época, principalmente após os devaneios de perder, não lutar mais, fingir que esta tudo bem enquanto o mundo ai dentro morre, é bom tirar umas “férias” desses dias mundanos.

É bom se retirar da cidade, seja ela qual for, mudar, se refazer. E quando voltar, as mudanças são positivas, na sua maioria. Vejamos bem, há um tempo atrás eu fiz isso, um tipo de isolação quase discreta. Um ‘quase’ intrometido por fatos que nesse meio tempo ocorreram, que não são muito discretas, mas entram na parte de mudar-se. Mas chegando ao ponto onde se discute mais, no final de tudo isso, as coisas mudaram, não somente no exterior, como um entendimento interior um pouco maior de quando se cria isso. E cada vez que se sente vontade de parar e pensar, e ficar refletindo sobre algo, é tão mais fácil como parar agora, em meio a disputas e não conseguir entender nada do que os olhos enxergam e a cabeça tenta agir. É bom parar para se entender, para ver que dentro de si ainda pode haver um pouco de paz, e um refugio quando nada vai bem. Por experiência própria, o seu interno vai ser muito mais útil do que qualquer abraço amoroso pode dar, ou então quando você quer entender porque aquele abraço amoroso se foi e você nem sabe o porquê disso. Em tempos onde se chora, é mais interessante se tentar apaziguar criando outro objetivo ou foco, esforçando-se em outro motivo, do que parar e ficar se perguntando onde se errou ou o que aconteceu. Não se volta ao ponto, não se tem como modificar o já ocorrido.

A vida lhe da coisas de graça, e nem presta serviço cobrado, ela apenas deseja que isso lhe sirva para alguma coisa. Então depende de você, do modo e do que você deseja fazer com aquilo. Basicamente não se pára para pensar no que aquilo lhe serve ou então porque isso veio até ti. Às vezes, se torna tão complicado querer compreender o significado daquilo, que atiramos no esquecimento para não achar tão difícil ligar as coisas.

“De repente a dor de esperar terminou. E o amor veio enfim. Eu que sempre sonhei, mas não acreditei muito em mim. Vi o tempo passar. O inverno chegar. Outra vez mas desta vez todo pranto sumiu. Um encanto surgiu, meu amor. Você é algo assim...” Tem dias em que eu paro para pensar no que foi aquele tempo em que as coisas pareciam mais tranqüilas e que não havia tanta distância entre o meu corpo e o teu. E os meus olhos com os teus. Sabe, eu queria lhe dar trechos bonitos e poesias amáveis para tentar te fazer entender o quanto foi boa a tua vinda até mim, e que ainda te espero, que te aguardo no mesmo lugar todos os dias. Podes não me ver lá, mas eu estou sempre viva ao teu lado. Pode achar bobagem o que eu faço ou deixo de fazer, mas faço para esquecer que não estas comigo agora. Faço de tudo para te colocar junto a mim novamente. Escrevo livros, corro ruas, fujo, volto, me desdobro e vira louca. Não deixo de sorrir somente para te ter pertinho de mim de novo. Só para sentir o cheiro, lembrar do sorriso, das mãos. Não me importo se não és meu ainda, nesse momento, mas dentro de mim você sempre foi meu. E não vai demorar muito para ser de corpo e alma. Para me fazer largar esses meus sonhos de te querer e me deixar boba com a realidade de estar aqui, comigo. “Falou comigo mais de uma vez. Não, eu sei, não fui muito cortês. Com ele,não. Isso, porque ele mentiu, porque. Te ganhou e partiu. Porque o tempo consentiu. Ou se não porque. É tanto, é tanto. Se ao menos você soubesse. Te quero tanto. É tanto. Se ao menos você soubesse. Te quero tanto.”