quarta-feira, 28 de abril de 2010

J'veux ton amour





Eu sei que um dia a gente não tinha problemas, mentira, tinha sim, o fato de ter que contar pra mãe que se cortou subindo numa arvore que tinha espinho, isso era um problema enorme. Depois disso, o problema se transformou em como a gente contaria para a mamãe que tirou um B na prova, o que mais tarde se mostra um 5, 4, 3, 2, 1... Às vezes era difícil tirar um zero, mas havia a possibilidade, ai o problema se resumia em como contar tal tragédia. Achávamos sempre que era um problema grande tudo isso. Então, mais tarde passa para o problema de querer ser mais velho quando se tem, mais ou menos, uns quinze anos, porque todo mundo na adolescência que atingir a maioridade. E o que os adolescentes não sabem é que, quando se atinge a maioridade normalmente não se quer mais regredir na idade, porque é uma fase inenarrável. Todavia, tem seus lados negativos drásticos.

Um dia a gente também chega numa fase, não importa a idade, mas normalmente depois de algumas experiências, que se deseja constantemente voltar ao que era antes e o que havia antes daquilo ocorrer. Algum exemplo, o fato de não ter alcançado algum objetivo grandioso, como um emprego, uma aprovação na escola, faculdade. Aprovação dos pais, dos irmãos, dos amigos (o que, algumas vezes, é muito doloroso e impactante). Então você pensa em todas as coisas que fez, ou melhor, no que deixou de fazer, e no que essas conseqüências que vieram são extremamente destrutivas. Você deseja tanto voltar a ser o que antes fora que esquece o que você é.

Existem aquelas feridas expostas, que com o tempo vão se fechando, vão mostrando que há uma cicatriz, que alguma coisa pode curar, e que agora não arde tanto como antigamente. Essas feridas vão se mostrando amigas, vão falando que agora, agora esta tudo bem. Até o dia em que parece que não houve uma casquinha que realmente tapasse aquilo. É um furo, uma cratera, que não fechou em nada. Um vulcão que depois de algum tempo, indeterminado, ele entra em erupção e jorra para fora tudo o que ficou guardado por um tempo. Vai se juntando força, fogo, angústia, ânsia, e vai borbulhando, se aquecendo, até chegar num ponto em que explode, numa densidade emocional tão bombástica, que se tu fores pegar o primórdio da dor, é grotesca, mas interessante de se mexer. Elas ardem muito em dia de chuva, que se recordar das lembranças, bate uma nostalgia inexplicável, onde parece que vem numa tristeza, mas no fundo é uma alegria acobertada, porque nem todos levam como alegria relembrar fatos bons.

Voltando a ferida, ela vai ardendo e abrindo, vai machucando, e tem um ponto crucial que incomoda, que lateja feito louca, que parece mais com tragédia grega do que outro gênero literário. Que se faz de alegria dor, que deveras sentir calma ao invés de inquietude. Deveras também ficar um pouco isolado, só para não fazer tanto alarde, mas feridas não sabem ser como mãos, que passam devagar pelo rosto e ficam adocicando a pele. Ferida é arma letal, que machuca, quase matando, que arranca pedaço, que não tem medo de estar fazendo o mal para a gente. Ferida pode ser exemplificada como mãe, que ensina. Alguma coisa ferida sempre ensina, seja ela para o lado bom ou para o lado ruim. Ferida é como amigo sincero, tão transparente que deixa a verdade exposta e nos faz chorar como crianças, quando nos cortávamos nos espinhos.

Às vezes, a gente acha que esta tudo tão bem, que somente os nossos amigos e algumas festas podem cessar uma dor de ferida grande, dor de gente grande, que quando menos vemos, sempre tem a essência incomodando. Aquele ponto fixo que é o gerador de tudo, que fica ativado vinte e quatro horas, fazendo essa dor rodar como louca. E a gente começa a perceber que não quer mais senti-la, que quer que ela se esvaia de uma vez, que aquilo não pode mais fazer parte de ti, como humano. Então deparamo-nos que não existe mais o que fazer para que ela se vá. É inútil lutar contra essa dor, essa ferida que nunca sara. Que nem casando sara, que nem chorando sara, que nem arrancado fora, ela sempre será tua, até o dia em que, ou aquilo seja resolvido, ou então você apague o passado, impossível de vez. Achamo-nos tão fortes por lutar contra injustiça, sacrifícios, contra desapego, mas desapego da nossa ferida sempre é tão complicada. Viu, não é injusto, mas é inútil lutar contra as dores do amor.

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