segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Saint-Tropez


E se todas as mulheres fossem iguais, almejassem as mesmas coisas, será que seriam todas idênticas? Existiriam homens para todas elas? Existiria mundo para todas elas? Haveria lugar suficiente para viverem para a mesma coisa?


Gostaria de encontrar alguém agora, em algum lugar inesperado, sem precedentes, com chuva para beijos melados de romance. Com a grama encharcada e pés descalços. E mesmo com momentos tão ruins, nada que uma boa apimentada em tudo e deixar ferver por meia hora, retirar a tampa da panela e servir. Romances que vem e vão, mas os bons e que duram, ficam ali guardados por sete chaves e varias trancas. Não deixam sair nem por um fio. Se saírem, é capaz de não voltarem ao seu ponto inicial, ou o ponto onde tudo se encontra. Amores, sempre é ele o culpado de tudo. O culpado de deixar as pessoas ‘abobadas’ com o próprio respirar, de serem felizes em plena tristeza profunda, e de verem coisas onde ate o medo não teria coragem de pisar.


Candente naquela noite, fervorosa como sempre. Em um dourado irresistível. Ardia fogo. A festa já havia começado e ela ainda estava no carro. Ele via e revia aquela cena como se estivesse tendo surtos de beleza em sua frente, e com certeza, ela era a mais linda que ele já havia visto em todo o seu tempo. Parecia criança ‘decorando’ os novos gostos e os sons diferentes. Estava atirado em casa. Com as pernas para cima, imaginando se na próxima vez de trabalho, tudo seria definido. O filme continuava na tela. Sozinho em uma casa, com os seus trinta e cinco anos. Bebia algo que nem eu sei descrever, mas era um líquido com um agradável aroma. Levantou-se e caminhou alguns passos, olhou pela janela e escorria água no vidro. Mente infame, pensava tudo o que não deveria fazer.

Rodeada de coisas inúteis em uma grande lista de afazeres. Jazia esplendor na pele dela, mesmo com tanta ‘futilidade’ de tarefas, podia-se encontrar uma ponta de sexualidade nela. Mesmo com todo o corpo fora do lugar, com toda a bagunça de sua mente e a simplicidade que ela fazia mostrar em si. Era sensualidade esbanjada em poucos traços de mulher. Sentou-se porque não agüentava mais as idas e vindas da infeliz criatura que tentava ajudar. Não era irritação, apenas cansaço de alguém que não queria fazer o que lhe era destinado. Pegou um copo e tomou sem respirar o que serviu. Fechou os olhos e ficou ouvindo o que lhe era dito, ‘escutava’. Estava presente, mas não querendo entender sobre as coisas.

Eles queriam algo a mais para viver, queriam rir do nada, chorar em colos, perde-se em metros e achar no outro dia o seu coração. Cada um com o seu destino, cada um com nada traçado para ficarem juntos. Uma pena que não daria certo. Se sempre os casais bons ficassem juntos, o mundo seria um conto de fadas, mas na realidade isso normalmente é atrapalhado por tempo, dinheiro, amizades e ate inimigos. Queria pelo menos uma vez entender sobre o que tanto os humanos falam sobre o amor. É ridículo ver que enquanto uns se matam para achar alguém que os trate por inteiro, outros jogam fora pensando que é preciso viver sozinho. Ridículo não, apenas relativo em relação a algo tão solto.

‘Saiu para o mundo’, mais uma vez, seriam viagens atrás de viagens. Rotina um pouco estressante quando se quer paz e apenas alguém para estar ao seu lado. Arrumou a mala, arrumou não, apenas ‘jogou’ as roupas naquela ‘caixa’. Homens arrumando malas são como mulheres fazendo a barba. O carro o esperava lá, a espera do vocalista. Ele sempre tinha que estar lá. Entrou carro adentro e foram para o aeroporto, faltava apenas ele. Sentou-se e calou-se, não havia palavras para sair de sua boca, nem gestos para serem cobrados. Ficou mudo diante de tantas coisas que pensava. Pensava em alguém distante, em alguém irreal, alguém da sua imaginação. Ela flutuava sobre as nuvens e escorregava ate seus dedos. Toques suaves, mãos leves. Fechou os olhos e apagou. Ela era linda, e como era, divinas formas.

Subiu para seu quarto, deleitou-se da sacada. Vista para Saint-Tropez. Sol, praia, mar, e um ventinho batendo em suas longas e onduladas madeixas pretas. Pretas como o céu nas noites escuras e frias de inverno. Mas por dentro, bem, por dentro ela era fogo que arde sem de ver. Já dizia Camões sobre essas partes de amor e ardência. Ela era fogo mesmo. Atirou-se em uma cadeira de sol e ficou lá, estaqueada na sacada. Sol queimava a pele dela de leve, uma água brotava de seu corpo, era gostoso de ver ela ali, naquele estado. Roupas brancas deixavam o corpo dela voluptuoso e atrevido. Uma camisa que ia ate o início das pernas. Esplendida ao sol. Praia sempre a ajudava a esquecer tudo o que tinha de bom e o que queria largar. Vícios.

Eu queria ter um destino interessante, alguém interessante, na qual eu pudesse desfrutar dos dias ensolarados e das noites frias de inverno. Ser enrolada por braços que esquentassem ao máximo a carne e o osso. Sabe quando você quer gastar o seu precioso tempo com alguém, mas parece que esse indivíduo nunca aparece? Era isso o que faltava nos personagens, alguém que os fizesse sair do ar um pouco, voltar para o lugar de onde estiveram sempre e não sabiam.

Um comentário:

Letícia C. disse...

Bah, não sei como você ainda tem fôlego.